Boca de tacho fala, fala muito. Um espaço de breves observações sobre esta cidade, suas manias, sua política e seu contraponto.

5 de nov. de 2012

O FENATA não pode ser tornar a München Fest



A 40ª edição do Festival Nacional de Teatro Amador estreia nessa terça feira, dia 05 de novembro. Convenhamos: se a vida começa aos quarenta, o FENATA renasce a cada fim de ano quando movimenta a cidade. É preciso admitir: ninguém chega aos quarenta com essa vitalidade sem algum motivo e respeito.
E quem disse que o cidadão dessa moça “princesinha” não gosta de teatro? O FENATA é um exemplo de que tendo a oportunidade de acesso, a população não só vai, como se relaciona intensamente com o Festival. É tarefa difícil achar um lugarzinho no Teatro Ópera nas sessões principais. O público é diverso: estudantes, famílias, casais, jovens, gente doida, gente que não gosta de gente doida, gente que nem sabe que é gente, gente que não queria ser gente... O FENATA é um evento cultural que dá certo, porque consegue contemplar identidades múltiplas. Além de tudo, uma peça teatral é na maioria das vezes, um tesão, porque aflora sensações e subjetividades que o cinema e a televisão não conseguem tatear. E não me venham os “sabidos de arte” falar sobre as técnicas, métodos e teorias dos espetáculos... O fato é que uma apresentação de teatro é por si uma descoberta.
Outro fator que garante a vivacidade do FENATA são seus preços populares. Ou melhor, eram os seus preços populares. Em 2011 as entradas para as sessões das 20:00 e das 22:00, custavam R$ 6,00, e para quem tem acesso a meia-entrada, apenas R$ 3,00. Em 2012 o preço dos bilhetes subiram consideravelmente, agora as entradas custam R$ 10,00 e com pacotes “promocionais” pra lá de duvidosos. A situação foi abordada no portal Crítica de Ponta, pelo estudante Matheus Lara. Onde o mesmo alerta que o “pacote promocional” não contempla quem tem direito a pagar meia-entrada. Leia aqui a matéria.
O aumento do preço dos ingressos evidencia algumas concepções de se pensar a cultura e o principalmente o acesso à cultura: o aumento de 66% no preço dos ingressos para o FENATA remam contra a ideia de um festival de teatro popular, acessível e desfrutado intensamente pela população. A equação é simples, quanto mais acessível o ingresso, maior a oportunidade de acompanhar o diversos espetáculos. É justamente esse o ponto: o FENATA não pode ser visto como um evento artístico tal como a München Fest se tornou, ou seja, um evento que antes de tudo não pode dar prejuízo e que homogeneíza seu público. O aumento significativo dos preços do FENATA coloca em risco o caráter popular do festival e dificulta o acesso à cultura da maneira mais fria possível: através do dinheiro.
Ponta Grossa tem uma grande demanda cultural, produtores de arte e também público. Mas nossas políticas públicas no setor parecem estar na contramão de qualquer concepção de “cultura” pensada de maneira ampla, plural, democrática e principalmente necessária.

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